
Feito a mão
Eu deveria ter dito que sim.
Que aceitava, que valia a pena, que com todos os defeitos e falhas ainda era bom, que conseguiríamos superar se tentássemos mais um pouco.
Eu deveria ter te abraçado.
Ficado em silêncio, deixado você se acalmar, chorar, me batido, se necessário.
Olhei meu rosto no reflexo do pára-brisa, e no silêncio do carro, senti frio. Percebi que o ar-condicionado estava no máximo. Tudo condicionado. Eu me condicionei. Talvez seja isso.
Entre quadrados e círculos, auqelas formas pareciam olhos e me enxergavam, se aproximavam de mim, o vendedor com seus óculos escuros me olhava também.
Feito a mão, ele disse.
Não entendi.
A toalha, ele sorriu.
Não sei quanto tempo fiquei olhando para ele. Entre todas as peculiaridades daquela figura que segurava o tecido estampado, olhei para suas mãos.
Esquecemos das mãos.
Esqueci das suas e não fiz questão de lembrar-te das minhas.
As mãos calejadas e secas do vendedor seguravam a toalha, as minhas o volante, e a sua segurava a caneta que escreveu seu nome selando o nosso fim.
A buzina do carro de trás me chamou para a realidade. A avenida precisava seguir o seu fluxo. Toquei a marcha procurando pelo retrovisor vestígios do vendedor que evaporou, como se nunca houvera existido.
Penso em todas as palavras que eu não disse, mas deveria ter dito.
Leandro Flores
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